As lutas do ‘Canhoto de Ouro’ para vencer no Boxe e nos ringues da vida

Publicada: 17/10/2025 - 15:01


Infância difícil, carreira de sucesso, aposentadoria e a vida de empresário: conheça a trajetória de Wallace Moraes

Wallace Moraes posa com Patricia Rovarotto, sua esposa, e o campeão Popózinho no Outboxing Fight Night (Foto: Priscila Tessarini)
Wallace Moraes posa com Patricia Rovarotto, sua esposa, e o campeão Popózinho no Outboxing Fight Night (Foto: Priscila Tessarini)

Uma vida marcada por dificuldades desde a infância, assim como a de muitos jovens brasileiros de famílias que passam por problemas financeiros. Wallace Moraes, bem antes de alcançar o sucesso no boxe e ser conhecido como o “Canhoto de Ouro”, começou a trabalhar com o pai ainda criança, aos 9 anos de idade, para “botar mais dinheiro em casa”. Sua trajetória também é bastante comum a dos jovens que buscam uma saída para escapar dos caminhos da criminalidade e das drogas: o esporte.

Nascido na Zona Sul de São Paulo, no bairro Cocaia, Wallace se deparou, logo cedo, com uma realidade brutal, ao perder a mãe por feminicídio, com apenas 4 anos. Como os pais eram separados, o menino foi morar com o pai e sua família. Resiliente, ele afirma que os obstáculos, por maiores que tenham sido, foram importantes para aprender os valores e lidar com qualquer situação que aconteça até os dias de hoje.

O gosto pelas artes marciais vem das lembranças mais remotas e começou a se tornar concreto com a capoeira. Até que, por volta dos 15 anos, a convite dos amigos, foi num clube em Santo Amaro para fazer basquete e futebol. Assim que entrou no Municipal Club Joerg Bruder, se deparou com uma sala de boxe, esporte que sempre gostava de assistir na televisão. Procurou o professor, disse que queria fazer aulas e recebeu uma ficha que teria de ser assinada pelo responsável. Como era briguento na escola, imaginou que seu pai não deixaria. Resultado: ele mesmo assinou o documento e no dia seguinte foi treinar.

A partir do momento em que calçou as luvas, experimentou a transformação de tantos meninos brasileiros com história parecida com a dele. “O boxe mudou minha vida. Eu sofria quando era pequeno, tinha bronquite asmática. Não aguentava jogar bola por muito tempo, correr, fazer as coisas de criança. Sempre cansava. Treinando boxe nunca mais tive crises”, conta Wallace.

“Sempre fui tímido, não era muito de falar e o boxe me ensinou a socializar, a ter disciplina, respeito. Me moldou em uma fase que não tinha muita referência familiar positiva”, completa.

Wallace se encantou de primeira com o boxe, “foi amor à primeira porrada”, brinca. De fato, frequentar os ringues mudou a sua vida. Ao falar da importância da nobre arte em sua vida, fica difícil até imaginar como seria sem este esporte:

“O boxe é meu sonho que realiza sonhos. É a minha vida, minha escola, minha família, meu trabalho, meu lazer. Me mostrou a enxergar o mundo de outra forma, me mostrou lugares que eu poderia ir além da favela.”

Marca registrada dos boxeadores, o apelido de Wallace foi dado por um ex-lutador e ex-árbitro. A habilidade e os golpes chamaram atenção de Genival Gomes, que sempre o via em ação e lhe dava conselhos e incentivos. Certa vez, estavam treinando juntos e Genival foi direto ao ponto.

“Você tem futuro. Segue firme, acredite em você. Você é o ‘Canhoto de Ouro’. Sempre que eu dou um apelido, ele pega. Dá certo”, profetizou Genival.

A partir dali, seu talento foi se desenvolvendo e não demorou muito até o surgimento do ‘Canhoto de Ouro’. Recheada de títulos, a carreira de Wallace teve como base o boxe olímpico da categoria super pena, no qual fez mais de 200 lutas e sempre esteve entre os melhores. A falta de apoio e de patrocínios não permitiu a profissionalização, que só foi acontecer mais tarde. Seu treinador sempre o aconselhava a não se tornar profissional por conta, principalmente, de gastos e por perder uma remuneração que já era certa.

Aos 29 anos, Wallace sentiu que tinha chegado ao limite e disse a seu treinador que só voltaria aos ringues como profissional. E assim foi feito. Estreou profissionalmente no Boxing For You, em janeiro de 2017, com vitória por decisão unânime, após quatro rounds diante de Almir José Marques. O Canhoto de Ouro disputou cinco lutas no boxe profissional, com três vitórias e duas derrotas.

A missão nos ringues estava cumprida. Pendurar as luvas é a decisão mais difícil para qualquer boxeador e não foi diferente para Wallace. Nada, entretanto, que tirasse o seu foco. Planejou o seu futuro e o da sua família, ao lado de Patricia Rovarotto, sua esposa. A rotina pesada, que conciliava trabalho, filhos e as lutas e as dificuldades de conseguir patrocínio vieram de encontro com o desejo de aumentar a família. Resolveram mudar para o interior de São Paulo. Longe dos ringues, passou a dar aulas de boxe, se especializou e abriu uma clínica de massoterapia.

A parceria com Patricia, uma mulher pioneira, ex-árbitra de boxe profissional, ex-atleta, psicóloga especializada em esporte e empresária bem sucedida, foi ampliando horizontes. O próximo desafio de Wallace foi entrar no ramo empresarial. A dupla esteve junta durante muitas fases da carreira de cada um: “eu subia no ‘corner’ dela e ela, no meu ‘corner'”, costuma dizer o agora empresário. O entrosamento foi aumentando e os dois criaram a Outboxing, empresa dedicada a resgatar os tempos da nobre arte do boxe.

Em agosto de 2025, foi realizada a primeira edição do Outboxing Fight Night, em Rio Claro-SP, que tem grande tradição no boxe. O evento contou com oito lutas em seu card, com direito a uma disputa de cinturão e mostrou que o resgate da magia do boxe já é uma realidade. Cercado de requinte e elegância, teve ampla repercussão e deu um passo enorme para implementar um calendário deste esporte na cidade do interior paulista, que fica a menos de 200 quilômetros da capital.

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