Brasileiro supera problemas de saúde, perdas familiares e constrói carreira promissora no MMA; veja
Por: Redação
Publicada: 03/09/2019 - 11:31
Por Mateus Machado
Com apenas 24 anos de idade, Carlos do Carmo Mota tem história de sobra para contar sobre sua vida. Natural de Medicilândia, no Pará, partiu para o Rio de Janeiro ainda com 2 anos, acompanhado pela mãe, que buscava um futuro melhor para o seu filho. Não demorou muito para que o paraense passasse a conhecer as barreiras impostas pela vida. Aos 6 anos de idade, perdeu a mãe, vítima de câncer, um ano depois de ver sua avó falecer.
Além das perdas familiares, tristes e traumáticas para qualquer indivíduo, Carlos sofreu com a desnutrição e um pequeno tumor na bochecha, ambos ainda no período da infância. Necessária no dia a dia de qualquer lutador, a superação surgiu em sua vida muito antes da profissão se tornar seu “ganha pão”.
Carlos cresceu e transformou as feridas internas e externas em aprendizado. Se apegou à paixão pela luta e, desde os 8 anos, quando iniciou nas artes marciais com a Capoeira, se viu determinado a seguir com o seu sonho, independentemente do que acontecesse a partir dali. Passou pelo Jiu-Jitsu, Taekwondo, até chegar no MMA, onde está atualmente, invicto com quatro vitórias e contratado pelo evento americano LFA, organização que “abre portas” para os atletas serem chamados pelo UFC, maior organização de MMA do mundo.
“Isso me ajudou bastante para ser o atleta de MMA que sou hoje. Eu trouxe muita bagagem, não só da vida sofrida que eu tive na infância, mas também pelas competições que disputei ao longo dos anos. Hoje eu me sinto um atleta consciente, preparado e completo”, celebra Carlos, que com o passar dos anos, ganhou o apelido de “Tizil”.
Nome importante na trajetória de Carlos Tizil, Chicão Bueno é só elogios ao seu pupilo. Acompanhando seu atleta há anos, o treinador afirma, sem dúvidas, que o lutador peso-mosca não é mais uma promessa do MMA, e sim uma realidade.
“É como se fosse um filho, eu ‘adotei’ ele (risos). O treinamento dele tem sido espetacular, fora da curva. Hoje ele está pronto para lutar contra qualquer atleta, em qualquer evento. Chegamos num ponto onde posso afirmar, sem dúvida, que ele já é Top 5 mundial na categoria dele. Ele vai ter a oportunidade de mostrar isso. No Boxe, se eu botar ele, vai para a Seleção Brasileira da modalidade. Ele está ‘boxeando’ com campeões sul-americanos, da seleção, e falo que ele está à frente, é mais atleta. A parte de Wrestling dele é fundamental e está muito bem no MMA como um todo. No chão, em pé e mentalmente, ele está voando. É um cara humilde e não chamo nem de promessa, e sim de realidade. Tenho certeza que será um dos grandes representantes do nosso país pelo mundo”, destacou.
Confira a entrevista de Carlos Tizil:
-Dificuldades e perdas na infância
Uma das lembranças que eu guardo bastante foi quando eu sofri desnutrição, quando ainda era criança. Também tive uma espécie de tumor por dentro da minha bochecha. Lembro que fiz vários exames, mas não sabiam o motivo, mas acredito que foi um reflexo da morte da minha mãe, que também aconteceu quando eu era muito novo. Doía bastante e minha tia me levava quase todos os dias ao médico, até que operaram e tiraram, e concluíram que se tratava de um Cisto que crescia na minha bochecha e eu já tinha desnutrição, então foi muito difícil, porque eu já era bem magro e emagreci ainda mais, porque só podia comer sopas e coisas batidas no liquidificador. Foi um período complicado demais.
-Trajetória nas artes marciais
Eu comecei a fazer Capoeira com 8 anos, na comunidade onde eu morava. Logo depois, eu entrei no Jiu-Jitsu e também iniciei no Taekwondo. Fui campeão no Jiu-Jitsu em alguns torneios e também competi no Taekwondo, onde fui campeão 25 vezes. Desde muito novo, eu gostei da luta e vi que me saía bem no esporte, foi daí que a paixão cresceu mais. Resumindo, eu nasci para fazer isso, eu nasci para competir, para estar nesse esporte. Sempre fiz bem, não tive dificuldades de aprendizado e percebia minha evolução. Isso me ajudou bastante para ser o atleta de MMA que sou hoje. Eu trouxe muita bagagem, não só da vida sofrida que eu tive na infância, mas também pelas competições que disputei ao longo dos anos. Hoje eu me sinto um atleta consciente, preparado e completo.
-Ida para o Rio e perda da mãe e avó
Quando eu tinha 2 anos, minha mãe resolveu vir para o Rio de Janeiro. Eu morava em Medicilândia, no Pará, e ela resolveu vir para o Rio na busca de uma vida melhor para a gente. Com 6 anos, minha mãe faleceu por conta de um câncer e minha avó tinha falecido um ano antes. Foi uma infância muito dura, mas que também me fortaleceu bastante. Assim que comecei no Jiu-Jitsu e no Taekwondo, eu comecei a me encontrar na luta, me destaquei e sabia que dali eu conseguiria ter uma profissão. Eu enxerguei na luta algo para mudar de vida e sempre acreditei nesse propósito.
-Início no MMA
Lembro que minha primeira luta, no Shooto Brasil 65, o meu adversário vinha de vitórias consecutivas, enquanto eu estava fazendo minha estreia. Consegui ganhar bem, demonstrei um trabalho bom e todos gostaram. No meu segundo combate, apareceu uma oportunidade para lutar na Inglaterra, contra um atleta na Europa que ninguém queria enfrentar, um francês que estava com pré-contrato assinado com o UFC. Venci esse francês e voltei para o Shooto, onde nocauteei na edição 73 o Elvis Oliveira. Na minha quarta luta no MMA, lutei contra o Claudio Coutinho e voltei a vencer. Agora estou esperando essa luta no LFA, que está para sair após adiarem por conta do meu visto, que foi negado.
-Novo contratado do evento americano LFA
Eu recebi a notícia através do meu professor, que já veio com o contrato em mãos, dizendo que era um contrato de cinco lutar. Fiquei muito feliz e a gente manteve o trabalho que já estávamos fazendo. Fomos tirar o visto, mas foi negado duas vezes, primeiro o de turismo e depois o de trabalho. Mas seguimos trabalhando, focados, sabendo que tudo tem um tempo certo. A gente não deixa de fazer o nosso. Podem ter certeza que vou fazer uma boa luta de estreia no LFA, vou fazer barulho na organização.
-Inspirações no MMA
Eu vejo alguns lutadores que me inspiram, como o Georges St-Pierre, que é um atleta completo, bom em pé e no chão. Tem também o Jon Jones, pela sua consciência e tranquilidade na hora da luta. Eu vejo neles muitas coisas que posso colocar no meu jogo. Por fim, o Conor McGregor, por ter feito o que ele fez. Ganhou muito dinheiro, se promoveu bem e fez grandes lutas.
-Projeção para chegar ao UFC
O LFA é uma vitrine para o UFC, onde os lutadores que se destacam lá são chamados para o Ultimate. Eu sei que não vai ser diferente comigo. Vou ganhar as lutas que eu fizer lá e vou assinar com o UFC. Estamos trabalhando nisso, para chegar bem, chegar pronto para dominar a minha categoria.