Carlão Barreto, Wellington Brasa e Márcio de Deus debatem importância do combate ao racismo no esporte; saiba mais
Por: Redação
Publicada: 11/12/2020 - 16:26
* O racismo – infelizmente – sempre esteve presente na sociedade, e não é incomum presenciar atos deste tipo em eventos esportivos, como no jogo de Futebol da Liga dos Campeões da Europa, na última terça-feira (8). Na ocasião, o quarto árbitro romeno Sebastian Colţescu foi acusado de ofender racialmente o camaronês Pierre Webó, que é membro da comissão técnica do Istanbul Basaksehir. Após o episódio, jogadores da equipe turca e do PSG – liderados pelas estrelas Neymar e Mbappe – deixaram o campo. A partida foi suspensa e retomada somente na quarta-feira (9), com o placar terminando em 5 a 1 para o time francês.
As respostas de importantes atletas mundo afora estão mudando de tom e iniciando um processo de tolerância zero para qualquer ato de racismo no esporte. A NBA (Liga de Basquete dos Estados Unidos), por exemplo, teve seus jogos boicotados em agosto como resposta ao assassinato de Jacob Blake – um homem negro, que estava acompanhando dos filhos – por um policial de Wisconsin (EUA). Antes disso, muitos atletas já estampavam mensagens nas camisas e tênis por conta do caso de George Floyd, que morreu asfixiado depois que um policial pressionou o joelho no seu pescoço por mais de oito minutos.
Márcio de Deus, que é professor e árbitro de Jiu-Jitsu, comentou sobre esse atual momento da luta contra o racismo com o esporte como um importante pano de fundo. O faixa-preta, que tem como principal atleta Gabi Pessanha, uma jovem negra, destacou a força do movimento liderado por ícones esportivos.
“Eu sou fã de NBA e acompanhei todo o processo. Eu fiquei muito feliz de ver a atitude dos atletas, sendo profissionais e defendendo os interesses da sociedade. Entendo que os atletas são referências. A fama deles vem exatamente das pessoas que gostam de esporte. Os atletas americanos deram um show, tanto a NBA, como a NFL, MLS e todas as ligas foram unânimes de protestar contra o racismo. Acho que as ligas brasileiras deveriam fazer isso também. Sou totalmente a favor desses protestos pacíficos”, apontou.
“No Jiu-Jitsu acredito que sejam casos raros, até porque não combina com a filosofia do esporte que preza a igualdade e hierarquia. A nossa faixa é preta. É isso”, opinou o professor.
Márcio também ressaltou o fato de morar em uma comunidade, na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio de Janeiro, o que gera ainda mais preconceito. Segundo o professor, só em preencher um formulário e colocar o local onde mora, a pessoa do outro lado já apresenta um olhar diferente em relação a ele. Dentro da arte suave, entretanto, o representante da equipe Infight acredita que casos de racismo sejam isolados.
Outro importante faixa-preta, Wellington Brasa vem trabalhando em campanhas na própria academia e também com a marca de quimonos Vouk para produzir mensagens que conscientizem as pessoas sobre o racismo. O lutador afirmou que atitudes como a Liga dos Campeões precisam ser combatidas com vigor.
“Não podemos ficar quietos, temos que falar, denunciar, soltar a voz”, desabafou Wellington.
“O racismo, hoje em dia, está afetando tudo que é esporte. Na Liga dos Campeões os jogadores saíram de campo por conta do quarto árbitro. Se não reprimirmos isso de uma maneira mais severa, não vai mudar nunca. Isso é enxugar gelo. Tem que reprimir, colocar na cadeia tanto os crimes de racismo, quanto de injúria racial, que tem uma diferença. Só assim para mudar”, falou o casca-grossa, dizendo que nunca viu ou sofreu qualquer ato dentro dos tatames, o que reforça o aspecto sem discriminação da arte suave.
Educação e empatia
Respeitado nome do Vale-Tudo/MMA e Jiu-Jitsu, Carlão Barreto é um importante símbolo das artes marciais no Brasil. O faixa-preta, atualmente comentarista do canal Combate, frisou que o racismo no Brasil é estrutural e que o combate precisa começar desde cedo, através das escolas, com educação e empatia.
“Infelizmente, o racismo é uma realidade. Quem nega o racismo, não quer enxergar a própria realidade, o meio que vive. Temos o racismo que dói na carne. Por mais que o ser humano evolua com questões tecnológicas, ele regredi como ser humano. O racismo é algo estrutural e para entender esse racismo, temos que mergulhar a fundo na história, muito além do que é contado nas salas de aula. Essa mudança vem de dentro da nossa casa e vai para a sociedade. Ninguém nasce racista. A criança é moldada para seguir exemplos. Racismo se combate com educação e informação, quanto mais cedo, melhor. É triste usarem o racismo de maneira política e ideológica, para se promoverem”, destacou Carlão, que completou:
“Racismo está no esporte, sociedade, empresas. É algo estrutural. Vemos no Futebol vários exemplos. Esse último agora, no jogo do Paris St-Germain (PSG)… É muito triste. Dói na carne. A forma inteligente de combater o racismo é investindo em educação, trabalhando a empatia das pessoas. Se colocando no lugar das pessoas, evitando julgamentos. No Jiu-Jitsu existe racismo também, porque ele está em toda sociedade”.
* Por Yago Rédua