‘Cria’ de Manaus, lutador relembra trajetória vitoriosa no Jiu-Jitsu e revela foco no MMA
Por: Redação
Publicada: 09/11/2019 - 11:05
Por Mateus Machado
Atualmente com 30 anos, Ary Farias fez seu nome no Jiu-Jitsu e, após anos dedicados ao esporte e com diversos títulos conquistados, garante estar focado integralmente ao MMA, onde possui um cartel de oito vitórias em dez lutas profissionais. Prova disso é que, no próximo dia 24 de novembro, o faixa preta retorna ao eventos nacionais e entrará em ação no Taura MMA 8, em Porto Alegre, diante de Rony Henrique, em duelo válido pela categoria peso-galo.
Com títulos mundiais e nacionais em seu extenso currículo de conquistas na arte suave, o lutador traz sempre consigo os ensinamentos do Jiu-Jitsu e sua relação com o esporte segue ativa. Prova disso é que em suas oito vitórias no MMA, cinco delas foram por finalização.
“Eu busco sempre evoluir na minha parte em pé, treinar bastante Boxe e Muay Thai. Gosto muito de treinar Wrestling também, principalmente porque encaixa no meu jogo, que é a luta no chão. E além disso tudo, continuo treinando Jiu-Jitsu com quimono. A maioria dos caras que vieram do Jiu-Jitsu e entraram pro MMA acabam deixando o treino de Jiu-Jitsu de lado, mas essa é a minha raiz, quero estar sempre com o meu Jiu-Jitsu afiado”, disse Ary, em entrevista à TATAME.
No bate-papo, Ary Farias contou sobre o início da sua carreira em Manaus, a trajetória no Jiu-Jitsu, o que o motivou a migrar para o MMA, entre outros assuntos.
Confira a entrevista na íntegra:
– Início no Jiu-Jitsu em Manaus
Sou mais uma cria de Manaus para o mundo. Então, eu comecei a treinar Jiu-Jitsu aos 11 anos, na academia Asle, em Manaus, com o Professor Henrique Machado. Entrei para a academia através de um amigo meu que treinava lá e me via passando o dia todo na rua brincando. Ele começou a botar pilha para eu iniciar e como lá era um projeto social, eu tive que escrever uma carta dizendo o motivo de querer treinar. Entreguei a carta e fui lá ver o treinamento. De cara, não curti muito, achei que aquela coisa de vários homens se agarrando não era para mim e quis ir embora. Mas o Sensei Henrique segurou meu braço e me botou para treinar. No começo, apanhei muito e acho que justamente por isso queria treinar mais e mais para me superar. Tenho muita gratidão por tudo que aprendi lá em Manaus. Foi isso que me forjou a ser quem eu sou. Lá tive a oportunidade de conhecer uma das pessoas mais importantes da minha vida, que é o Jacaré. Esse cara foi a minha base lá e me ensinou muito.
– Trajetória no Jiu-Jitsu
O meu início foi como o da grande maioria que pratica o esporte no Brasil. Eu era um moleque simples, que veio de baixo, com uma família muito humilde. Era cheio de sonhos. Apesar de todas as dificuldades, queria mudar a vida da minha família e fazer história no esporte. Comecei competindo campeonatos menores, depois fui para o Brasileiro, sendo campeão brasileiro nove vezes, desde a faixa amarela até a preta. Quando comecei a voar mais alto, comecei a competir o Campeonato Mundial e fui campeão sete vezes, da azul até a preta. Me considero muito abençoado pelo que construí e continuo seguindo meus sonhos.
– Como foi a sua transição para o MMA?
Desde que eu treinava Jiu-Jitsu, já tinha o sonho de ser campeão no MMA. Ficava na casa dos meus amigos acordado até tarde vendo Pride para assistir o Minotauro, Minotouro, Carlão Barreto, Anderson Silva, Shogun, Wanderlei Silva, Paulo Filho, só a nata do esporte. Mas o que me fez realizar a transição efetiva para o MMA foi quando, no ano de 2013, eu fiz a final do Campeonato Mundial da IBJJF na faixa preta e ganhei por vantagem, mas aí, por ter ido comemorar com os meus amigos, o árbitro me puniu e deu a vitória para o meu adversário.
Isso fez eu me decepcionar muito com o Jiu-Jitsu, com a organização e com a arbitragem. A partir daí, decidi que entraria para o MMA. Na época, eu morava em Rio Claro, porque a minha equipe de Jiu-Jitsu era lá e, com isso, me mudei para São Paulo para treinar no Corinthians. Hoje me considero um lutador de MMA completo e tenho certeza que vou ser o novo campeão nesse esporte, é só questão de tempo.
– Dificuldades iniciais no MMA e evolução
No início é difícil mesmo, porque no Jiu-Jitsu a gente não tem soco, chute, cotovelada, então existe essa dificuldade inicial. Mas como em qualquer outro esporte, a gente vai se adaptando e ajustando para encaixar no jogo que a gente já tem. Lá em Manaus, com uns 13 anos, o Henrique começou a me botar para brigar em pé também, com caras muito maiores e mais velhos que eu. Claro que não era treinamento na técnica, era lei da sobrevivência mesmo (risos), então acho que isso contribuiu também de certa forma para eu encarar o MMA sem medo.
Eu busco sempre evoluir na minha parte em pé, treinar bastante Boxe e Muay Thai. Gosto muito de treinar Wrestling também, principalmente porque encaixa no meu jogo, que é a luta no chão. E além disso tudo, continuo treinando Jiu-Jitsu com quimono. A maioria dos caras que vieram do Jiu-Jitsu e entraram pro MMA acabam deixando o treino de Jiu-Jitsu de lado, mas essa é a minha raiz, quero estar sempre com o meu Jiu-Jitsu afiado.
– Oportunidade de lutar no evento Taura MMA
Agradeço a organização do evento por abrir as portas para mim. Minhas últimas lutas foram em eventos estrangeiros, então espero poder fazer uma ótima apresentação e poder dar orgulho a um evento brasileiro. Eu treino o ano inteiro intensamente, então na minha preparação para a luta faço alguns ajustes, mudo algumas estratégias, mas é resultado de um ano inteiro de treinamento. Me considero preparado para a vitória!
– Carreira no MMA e derrota controversa
Na verdade, o que poucos sabem é que, na verdade, eu só tenho uma derrota no MMA, e não duas, como consta. Nessa luta, me deram a derrota por decisão dividida e o ginásio inteiro vaiou. Eu e meus professores na época revimos a luta centenas de vezes e a minha vitória era muito clara. Corremos atrás do que era necessário e houve uma votação com 15 árbitros do MMA nacional que decidiram que eu realmente tinha vencido (venci os dois primeiros rounds e perdi o último). Meu Sherdog foi alterado, me dando a vitória. Tenho toda a documentação disso comigo.
Pouco tempo depois, a equipe do meu adversário ameaçou meu ex-empresário, ele entrou em contato com o Sherdog e fez uma carta dizendo que era o organizador do evento e que eu tinha perdido. Assim, alteraram novamente meu Sherdog e fiquei com essa derrota. Cheguei a tentar alterar isso na via judicial, mas entreguei para Deus. Fiquei bem triste na época, mas preferi dar a volta por cima. Meu planejamento para a carreira atualmente é continuar treinando para ser campeão da maior organização de MMA do mundo (UFC), que acredito ser o sonho de qualquer lutador de MMA.
– Planos em relação ao Jiu-Jitsu
Graças a Deus, dentro do Jiu-Jitsu, acredito ter chegado ao melhor nível no esporte. Minha última participação em competição foi em 2018, no Mundial, mas é muito difícil conciliar um treinamento de alto nível no Jiu-Jitsu e no MMA. Agora, estou me dedicando mais exclusivamente ao MMA, mas como disse, não abandono o treino de quimono. Procuro treinar umas três vezes na semana quando estou fora de camp, então ainda estou aberto para fazer superlutas de Jiu-Jitsu.
– Razão de ter migrado para o MMA e análise do Jiu-Jitsu atualmente
Eu gosto de desafios, de me arriscar e dar tudo de mim. Sempre me vi sendo campeão no MMA, então hoje trabalho em busca disso. Acredito que dinheiro e fama, são consequências. Claro que com a melhoria financeira vou poder ajudar a realizar outros sonhos meus, os sonhos da minha família, dos meus amigos, mas não foi essa a razão de ter escolhido o MMA. Acredito que o Jiu-Jitsu chegou em altíssimo nível, com campeonatos que vêm valorizando de verdade o atleta, com boas premiações. Além disso, o nível técnico da galera mais nova está superando as expectativas. O Jiu-Jitsu competitivo se tornou esporte de alto nível merecidamente.