Golpes ilegais e briga generalizada entre Popó e Wanderlei podem afastar público que não conhece o Boxe
Por: Redação
Publicada: 04/10/2025 - 20:00

Não foi à toa que o boxe se tornou a nobre arte. Este esporte de registro milenar alcançou respeito e refino por meio de regras que primam aspectos como técnica, estratégia, disciplina, respeito e ética. A exploração comercial e indevida das chamadas lutas de boxe, com regras especiais, criadas especificamente para os confrontos destes eventos, mancha a tradição dos ringues e afasta quem quer conhecer melhor a modalidade.
Ex-árbitra de boxe profissional, de nível nacional pela CBBOXE e pelo CNB, e ex-atleta da modalidade, Patricia Rovarotto ressalta a importância do respeito às regras oficiais para proteger a saúde dos atletas. Ao comentar a enorme repercussão do confronto entre Popó e Wanderley Silva, ela fez um alerta: duelos com regulamentos exclusivos, envolvendo lutadores de modalidades diferentes, podem determinar decisões equivocadas da arbitragem, entre outros prejuízos.
“O que vou dizer não se trata de opinião pessoal. É opinião profissional. Não estou em defesa de nenhum lado. Estou em defesa do boxe, do esporte, da saúde e da ética. O árbitro tem de estar muito bem preparado para atuar num evento em que há uma luta com regras especiais, como foi esse caso, principalmente por conta da idade dos atletas e pelos mesmos serem de modalidades diferentes”, afirma Patricia, levantando outros questionamentos:
“O árbitro treina com as regras que está acostumado a aplicar e as decisões no ringue são tomadas em questões de segundos. É preciso ter a mesma agilidade e o mesmo reflexo de um atleta. Então, essas lutas de regras especiais, que não são as oficiais do esporte, dificultam muito a atuação do árbitro.”
Do alto de quem já esteve presente no ringue tanto para lutar, como para árbitrar, Patrícia observa que a espetacularização abre brechas para o desrespeito aos princípios básicos do boxe e lamenta o desfecho da luta principal do evento que mobilizou a opinião pública por conta do peso dos nomes envolvidos.
“Muitas das situações da luta entre o Popó e o Wanderlei não condizem com a realidade do boxe profissional. As regras foram aplicadas especificamente para esta luta. Um exemplo é o golpe ilegal voluntário, que não pode ser utilizado segundo as regras. No caso desta luta, uma cabeçada. A decisão de um árbitro profissional de boxe, numa luta oficial, na maioria esmagadora das vezes é de desclassificação já na primeira falta. Foram três cabeçadas ilegais do Wanderlei. É muito importante esclarecer estas questões, porque o leigo assiste este tipo de luta e acha que o boxe é dessa forma. E não é”, garante.
Mesmo deixando claro que não existe limite de idade para se lutar boxe, Patricia pondera que existem cuidados essenciais para que não haja riscos à saúde. Formada em psicologia e especializada em psicologia do esporte, ela adverte que o simples avanço da idade gera diminuição dos neurônios, que pode ser ainda maior e mais acelerada se a cabeça sofrer impactos sem as devidas medidas de proteção.
“Já estudei bastante a mente humana, a neurologia, a parte física cerebral. Quando uma pessoa que já passou dos 40 anos vai lutar, o cérebro já está perdendo alguns neurônios naturalmente, sendo lutador ou não. Fica muito mais arriscado fazer um esporte de combate, no qual se recebe golpes na região da cabeça. Existe um limite de idade no boxe não pela pessoa não ser mais capaz. É possível lutar boxe até 80 anos. Um exemplo é o tamanho das luvas. As de 12 onças (usadas na luta entre Popó e Wanderley) são muito pequenas”, disse a ex-árbitra.
“É preciso ponderar se vale a pena expor a saúde, principalmente se há o objetivo de chegar até os 70, 80 anos convivendo bem com os seus filhos, seus netos”, completa.