Hoje referência no boxe, ‘Mone Nocaute’ lembra que precisou omitir título na modalidade: ‘Disse que ganhei no futebol’

Publicada: 11/04/2023 - 11:04


Mone Nocaute revelou importantes nomes do boxe brasileiro – Divulgação

Ex-técnico da seleção brasileira de boxe, Amônio Silva é uma referência do esporte no país. Com apenas 46 anos, o treinador já revelou nomes importantes na modalidade, como Carlos Falcão, Arisson Tavares, Léo Faísca e, mais recentemente, Bárbara Santos, medalhista de bronze no Mundial de Boxe Feminino, em Nova Delhi (Índia).

Mais conhecido como “Mone Nocaute” no mundo do boxe, o ex-pugilista nasceu na Bahia e até hoje é um dos principais nomes da nobre arte no estado. O apelido se explica por si só. Enquanto ainda lutava, Mone tinha o costume de vencer nocauteando os seus adversários.

De origem muito humilde, Mone começou no boxe aos 20 anos, através de um convite feito por um amigo. Sua primeira equipe foi a “Champion”, a maior academia de boxe que havia em Salvador na época, onde já treinaram grandes pugilistas consagrados como Acelino Freitas, Popó, Reginaldo Holyfield entre outros.

Contudo, sua trajetória no boxe não foi nada simples, Mone não tinha apoio da família para praticar a modalidade e treinou por muito tempo escondido. Em 1999, quando foi campeão baiano, ele não pôde dividir a notícia da conquista com os parentes, quando chegou em casa naquele dia teve que omitir o feito e dizer que ganhou a premiação através do futebol.

“Meus pais não queriam que eu fosse lutador, não me apoiaram, ia escondido para treinar. Dizia que ia para o futebol, mas quando chegava em casa com o olho roxo ainda apanhava em casa. Era minha maior infelicidade (a falta de apoio da família)”, relata.

No ano seguinte ao título, Mone se afastou do boxe profissional por questões financeiras e decidiu iniciar um projeto para manter contato com o esporte. A equipe “Mone Nocaute” surgiu como uma iniciativa direcionada às crianças que se encontravam em situação de vulnerabilidade social de Mundo Novo, município do interior da Bahia.

“Trabalhei anos à noite para poder conciliar com meu projeto onde dava aula. Mesmo passando cinco anos na seleção brasileira, mantive minha iniciativa, que se mantém até hoje no meu bairro. Perdi alguns jovens para o tráfico quando saí de Salvador, e isso me deixou dividido. Após os Jogos Olímpicos de Tóquio, resolvi voltar para cuidar da minha equipe e dar uma esperança de vida aos jovens que acreditavam em mim”, revela o ex-pugilista.

Em 2003, o treinador revelou o seu primeiro atleta que foi convocado para a seleção brasileira, Carlinhos Furacão, atual presidente da Federação Brasileira de Boxe Profissional. Fruto do seu projeto social, Furacão conquistou diversos títulos internacionais, se tornou pugilista profissional e chegou a ocupar o 9° lugar do ranking mundial.

Mesmo não tendo uma longevidade em sua carreira como atleta, Mone se vê realizado com a sua jornada no mundo do boxe.

“Cheguei a lutar profissionalmente, mas por falta de apoio financeiro e da família resolvi investir como treinador. Não fui muito longe na minha carreira, mas conquistei todos os títulos que um treinador sonha pela seleção brasileira de boxe. Fui campeão continental, sul-americano, pan-americano e mundial. Fechamos em Tóquio com três medalhas olímpicas. Após isso, resolvi voltar para cuidar do meu projeto em minha comunidade”, completa.

Além do boxe, o “Mone Nocaute” oferece aulas de inglês, cursos de trança e aulas de karatê. Atualmente, o treinador, mesmo que de longe, acompanha diariamente o trabalho da seleção brasileira de boxe. O seu projeto social conta com mais de 100 crianças participantes.

O treinador fala com muita emoção sobre a sua carreira no boxe e do esporte como um agente de transformação social.

“Todos me diziam que eu não iria chegar a lugar nenhum, que eu era maluco. Com muita garra e determinação eu venci, o boxe salvou minha vida. Nunca usei drogas, mas passava dificuldades e através do boxe eu conseguir ajudar minha família, e salvar várias vidas na minha comunidade. Mudei de vida através do esporte”, contou.

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