Lutador brasileiro sonha com título mundial no Boxe e fala sobre planos de migrar para o MMA; veja

Publicada: 12/03/2020 - 9:50


Por Mateus Machado

Praticante de Boxe desde os 10 anos, Michel Borges é um verdadeiro apaixonado pelo esporte. Motivado pelo pai, que não conseguiu seguir carreira por falta de apoio, o carioca seguiu no esporte para honrar seu progenitor e, desde então, mesmo com as dificuldades vividas por qualquer jovem de comunidade no Rio de Janeiro, passou por cima das adversidades e vem construindo uma carreira de vitórias e grandes conquistas na modalidade.

Desde sua primeira luta oficial, como infantil, aos 13 anos, Michel acumulou ótimos resultados, mas seu maior feito foi atingido em 2016, quando disputou as Olimpíadas no Rio de Janeiro, superou adversários, até então, favoritos, e ficou em quinto lugar na classificação geral de sua categoria, um resultado surpreendente e espetacular, tendo em vista que na mesma divisão estavam atletas mais experientes e com títulos mundiais na bagagem.

Hoje, prestes a completar 29 anos, o atleta, 3° Sargento do Exército – de onde possui grande apoio para seguir competindo -, é o número 1 da categoria peso-pesado no Boxe brasileiro e sonha em ser campeão mundial de Boxe. Para isso, está traçando sua migração para o Boxe profissional, o que deverá acontecer até 2021. Além disso, está em pauta também uma possível ida para o MMA, e para isso, Michel vem treinando com Chicão Bueno, treinador que, em sua época como lutador, acumulou passagens por eventos como IVC, Pride, WVC, Meca e Cage Wars, sendo campeão em algumas dessas franquias e conquistando vitórias importantes diante de nomes imponentes da época.

“O Michel é um cara que, nas Olimpíadas, perdeu só para o campeão olímpico, um cubano, e foi uma luta muito dura. Ganhou de um camaronês que era um fenômeno, fez uma grande campanha. Já estamos trabalhando juntos há um tempo e estamos forjando bastante ele no quesito de sistema nervoso central, resposta, mobilidade e outras coisas. O treinamento do Michel é muito completo, ele está bem diferente… O encaixe dos golpes está outro, a pancada, a pressão é outra, ele é outro atleta, muito mais forte do que era, em todos os sentidos. O gás e a intensidade dele estão incríveis e hoje ele é, realmente, um grande atleta, um cara muito focado e disciplinado, até mesmo por ser um sargento do Exército, então ele está sendo forjado de todas as maneiras. Eu vejo o Michel muito à frente de qualquer atleta da modalidade aqui no Brasil, é um atleta muito completa. Ele conseguiu fazer uma coisa muito rara no atleta de Boxe, inclusive aqui no Brasil: ele conseguiu integralizar o corpo inteiro nos movimentos. Só no dia a dia para entender isso, mas o cara está com ritmo, intensidade, pegada, encaixe e outros quesitos.

Alguns caras da seleção treinam Boxe aqui e o Michel está muito à frente, e obviamente, isso elevou o nível do Boxe do Carlos Tizil, do Jeferson Braga, que também são atletas nossos. Estamos programando ele também para o MMA. Ele já está muito bem posicionado, tem o quadril muito forte, não é um cara fácil de botar para baixo, sem contar que é um cara muito atlético. É uma referência nacional no Boxe. A conversa diária que nós temos, obviamente, é que está se preparando para ser campeão mundial de Boxe, que é o que ele faz desde crianças, e o MMA veio como uma oportunidade. Ele está tendo uma evolução enorme na parte de chão, no Wrestling. Eu sempre falei que o cara mais duro no MMA é o que tem a mão boa e um bom Wrestling, é o antijogo e a chave para muita coisa, e é o que estamos trabalhando. Ele quer paralelamente, sim, seguir no MMA”, disse o experiente treinador.

Michel Borges hoje é treinado por Chicão Bueno (à dir) (Foto: arquivo pessoal)

Conheça mais sobre a trajetória de Michel Borges: 

– Início da trajetória no Boxe

Eu já gostava do Boxe desde muito novo, por incentivo do meu pai. Ele falava de lutas, colocava vídeos do Mike Tyson, do Acelino Popó, falava que, na época, se tivesse oportunidades, como eu teria naquela época, ele teria se tornado boxeador e também teria ingressado no Exército, que sempre foi o sonho dele, mas por falta de apoio, ele teve que trabalhar e não teve como fazer a prática do esporte. Desde muito novo, ele brincava comigo, me incentivava muito no Boxe. Quando tinha 10 anos, falei para o amigo dele que meu sonho era ser lutador de Boxe e que eu seria campeão mundial. Um amigo nosso me levou na Academia Raff Giglio, que hoje se chama Instituto Todos na Luta, no Vidigal. Me levaram para conhecer a academia, fizeram minha matrícula e lá ingressei, aos 10 anos, no Boxe, onde me apaixonei desde o primeiro treino. Perto de completar 13 anos, eu fiz minha primeira luta oficial, de infantil, com 46kg, e desde então nunca parei. Lutei de infantil, cadete, juvenil, e quando cheguei no juvenil, em 2008, fui campeão brasileiro, ganhando dos melhores estados do Brasil. Ganhei São Paulo, Santa Catarina e, na final, a Bahia, todas as vitórias por uma vantagem larga de pontos, sendo eleito o melhor atleta de todas as categorias no Campeonato Brasileiro.

Logo depois, ingressei na Seleção Brasileira juvenil, viajando para alguns países e minha carreira só foi crescendo. Aos 20 anos, fui campeão brasileiro no elite, ganhando novamente dos principais estados. Depois, fui convocado para a Seleção Brasileira, para fazer parte da seleção olímpica permanente, e foi onde comecei a viajar pelo mundo, por mais de 20 países, lutando, fazendo base de treinamento, sendo campeão de alguns torneios, medalhistas em competições realizadas a mais de meio século, até chegar à Olimpíada Rio 2016, onde consegui fazer meu nome no esporte. Meus maiores incentivadores foram meus pais, minha família, e também meu professor Raff, com quem pude aprender muito ao longo dos anos.

– Sonho da disputa da Olimpíada em 2016

A Olimpíada sempre foi um sonho para mim. Um garoto de comunidade, que era apenas um sonho, graças a Deus, com muito trabalho, muita luta, acabei realizando esse sonho. No meu país, na minha cidade, tive a oportunidade de ver meus familiares torcendo por mim de perto e, para mim, foi incrível, representar meu país nos Jogos Olímpicos. Fiquei muito satisfeito, claro, mas gostaria de ter um resultado ainda melhor. Fiquei em quinto na classificação geral, gostaria de conquistar uma medalha, mas infelizmente não foi possível. Mas fico feliz de ter lutado contra grandes atletas. O primeiro deles foi um camaronês campeão mundial profissional, muitos não acreditavam que eu pudesse vencer, mas pude colocar meu jogo em prática e ganhar ele por unanimidade. Ganhei também minha segunda luta, contra um croata, que na época era o quinto melhor do mundo no ranking olímpico. Na disputa da medalha para um cubano que na época era tricampeão mundial, hoje é tetracampeão mundial. Fiz uma boa luta, mas por questões de estratégia, acabei não vencendo. Mas fiquei feliz, porque fiz o meu melhor, saí como quinto melhor do mundo e mostrei meu trabalho para todos. Ali eu vi que posso ir além e que posso ser o melhor do mundo.

– Como você avalia o Boxe no Brasil atualmente?

O Boxe profissional, aqui no Brasil, vem crescendo de uns anos pra cá, com mais apoios, patrocínios, estrutura para os atletas e outras coisas. Porém, ainda temos dificuldades num sentido geral, para o atleta se manter treinando e competindo, porque para o atleta chegar no alto rendimento, buscar o melhor dele e crescer no esporte, ele precisa se dedicar integralmente ao esporte, e nem todos têm essa oportunidade de viver apenas do esporte. O Brasil tem crescido na modalidade, teve uma evolução significativa, mas ainda para chegar no auge, como nos Estados Unidos, são anos de trabalho, de muito investimento, para um dia chegar perto de uma estrutura como dos americanos, por exemplo.

– Gratidão pelo treinador Chicão Bueno

Hoje sou treinado pelo Chicão Bueno, que é um cara sensacional. É um anjo que Deus enviou na minha vida para poder me resgatar, dar ânimo, me ensinar, me fortalecendo todos os dias. Não é um trabalho apenas físico, mas mental também. O Chicão é um cara completo. Além de passar todas as suas experiências, ele consegue ser amigo, pai, conselheiro, um cara que sempre levanta nossa moral. Todos os dias eu aprendo coisas com ele, no esporte e na vida. É uma convivência que me faz muito bem e eu sinto minha evolução. É um cara que sempre busca o melhor de cada atleta. Pude melhorar muito meu Boxe, a minha qualidade técnica e outras coisas. É um cara excepcional.

– Considera migrar para o MMA futuramente?

Sobre o MMA, eu estou treinando (risos). Estou todos os dias com a equipe, o MMA é uma coisa que eu já tinha vontade antes, e agora, treinando com os atletas, fiquei muito mais motivado a estrear futuramente. Daqui a um ano, uns meses, não sei, talvez no MMA amador, e seguir carreira, porque minha vida é lutar. O primeiro esporte é o Boxe, mas o MMA tem me chamado atenção e futuramente pretendo estrear. Vamos ver. Se Deus quiser, chegarei ao topo representando meu país no Boxe e também no MMA, futuramente.

– Sonho de ser campeão mundial no Boxe

No momento, estou treinando muito, estou focado e com muita expectativa. Me sinto cada vez mais forte, vejo que estou encaixando melhor meus golpes, nocauteando mais vezes nas lutas, me sinto com mais potência. Estou me forjando para passar ao Boxe profissional, daqui a um ano, e para o MMA também. Meu sonho e meu futuro, com certeza, serão no Boxe profissional e no MMA. Estou treinando muito duro para isso.

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