Morando na Inglaterra, faixa-preta brasileiro fala sobre o Jiu-Jitsu em combate à depressão e ansiedade
Por: Redação
Publicada: 05/04/2021 - 11:27
Jackson Sousa tem uma daquelas histórias que dariam um filme. Cria do Cantagalo, uma das comunidades mais perigosas do Rio de Janeiro, ele teve que enfrentar as barreiras impostas pela vida para aproveitar as pequenas oportunidades que apareciam em seu caminho.
E foi aos 11 anos de idade que Jackson notou que sua vida poderia mudar através do esporte, depois dos seus primeiros contatos com o Jiu-Jitsu, num projeto social disponibilizado por Fernando Augusto, o Tererê, e outros craques, como Ricardinho Vieira e Alan “Finfou” Nascimento.
“O Jiu-Jitsu mudou a minha vida. Eu vi amigos que cresceram comigo perderem a vida por conta do crime. Você tem que driblar as drogas, tem que lidar com a falta de oportunidades. Foi preciso acreditar, de fato. Eu era um jovem sonhador, sem muitas expectativas, até encontrar o Jiu-Jitsu. Eu viajei o mundo todo, aprendi a falar em inglês e, agora, posso proporcionar coisas boas para minha mãe e minha família. A caminhada não foi fácil, eu tive que lavar carros e fazer outros trabalhos paralelos enquanto treinava Jiu-Jitsu. Isso tudo só me deixou mais forte, eu vi muita coisa que uma criança de 11 anos não vai ver nunca. A realidade, para mim, era outra”, explicou Jack, em entrevista à TATAME, ao contar sobre a importância do Jiu-Jitsu para sua vida.
Hoje, com 20 anos de Jiu-Jitsu, Jackson é um renomado faixa-preta com títulos expressivos no Campeonato Europeu e Campeonato Mundial sem quimono (No-Gi), ambos organizados pela International Brazilian Jiu-Jitsu Federation (IBJJF). Aos 31 anos, ele é o professor responsável pela equipe de Jiu-Jitsu Checkmat Hammersmith, em Londres, na Inglaterra.
“O Jiu-Jitsu praticamente foi a chave para um estilo de vida melhor quando eu ainda era criança vivendo nas vielas e becos da favela do Cantagalo. O Jiu-Jitsu está me proporcionando uma qualidade de vida que antes eu não tinha no Brasil. Eu sou muito grato ao esporte por tudo que conquistei até hoje e sei que ele ainda vai me proporcionar muito mais. E também sou muito grato por estar vivenciando uma cultura totalmente diferente do meu país. Hoje eu moro em Londres, na Inglaterra, cidade desejada por diversos brasileiros para fazerem intercâmbio ou uma faculdade por conta da valorização da educação e qualidade de ensino que é oferecida para a população. Isso é ouro! Jamais imaginaria estar vivendo na terra da rainha Elizabeth II. O mais incrível de tudo é saber que temos o Roger Gracie vivendo aqui também. Tenho ele como uma grande referência e influência no Jiu-Jitsu da Inglaterra”, comentou Jackson, faixa-preta desde 2013.
Em tempos de pandemia, causada pelo novo coronavírus, o índice de depressão aumentou na Inglaterra. Jackson, em sua palavras, diz como o Jiu-Jitsu pode servir de auxílio no combate a esse problema mental.
“Cerca de um em cada quatro pessoas tem problemas de saúde mental na Inglaterra. Depressão e ansiedade são comuns. Isso é ainda mais agudo agora durante a pandemia, pois há muita pressão sobre as pessoas, como a perda do emprego e poucas oportunidades para relaxar. Ter uma mentalidade forte agora é mais importante do que nunca, mas leva tempo e esforço para torná-la forte. O Jiu-Jitsu, mesmo que só aconteça online por causa da pandemia, é como remédio. Ajuda você a se conectar com as pessoas e a investir em sua própria força física e mental. Eu sei que alguns de meus alunos aqui em Londres sofrem de ansiedade e depressão… Às vezes, acho que meu dever fora do tatame é quase tão importante quanto meu trabalho no tatame. Eu preciso apoiar e motivar meus alunos, ouvi-los quando eles têm problemas e tentar alegrar o dia com minhas piadas e movimentos de dança. Eu uso todo o poder do Jiu-Jitsu para tornar a vida de uma pessoa melhor”, explica o professor.
Assíduo competidor, Jackson está aberto a receber convites para participar de torneios como Fight to Win e BJJ Stars, eventos tradicionais de lutas casadas nos Estados Unidos e Brasil, respectivamente.
“Estou disponível e aberto a propostas de lutas. Vejo o Jiu-Jitsu crescendo muito todos os anos e com os eventos de lutas casadas, como BJJ Stars, BJJBET, Fight 2 Win e outros eventos que estão desenvolvendo um trabalho honesto e de valor para o nosso esporte e nossos atletas. Isso me alegra muito, pelo fato de que esses eventos motivam a nova geração do Jiu-Jitsu a continuar o legado do esporte. Gostaria de parabenizar todos os coordenadores e equipes por trás dos eventos de lutas casadas. Em toda minha carreira até aqui, eu lutei com os melhores na minha categoria e no absoluto. Eu ganhei, eu perdi, mas nunca perdi a minha postura. Sempre respeitei a todos e nunca chamei ou desafiei atletas pelo fato de ser um atleta tranquilo na minha caminhada. É claro que tenho desejo de lutar com alguns atletas, porque nunca tive a oportunidade. Eu tenho um grande respeito e admiração por muitos deles! Seria legal ter uma oportunidade de dividir o tatame com Nicholas Meregali, Dimitrius Sousa, Patrick Gaudio e outros que ainda eu não tive a chance de lutar”, concluiu o atleta.
Jackson aproveitou a quarentena para estudar Ginástica Natural com Raphael Romano. Agora, ele tem beneficiado diversos de seus alunos através das aulas online de Ginástica Natural, um exercício desenvolvido com o próprio peso corporal. Jack ainda produz conteúdos exclusivos de Jiu-Jitsu em plataformas online como, por exemplo, seu curso de Pegada de Costas, disponível no site The Grapple Club.