Pesquisadora brasileira une ciência dermatológica e artes marciais no combate a doenças de pele em atletas
Por: Redação
Publicada: 14/04/2025 - 15:31

Por Leonardo Fabri
Praticante de muay thai, a brasileira Beatriz Abdo Abujamra, natural de Ourinhos (SP), tem traçado uma carreira singular no campo da pesquisa dermatológica, unindo sua expertise científica com sua paixão pelas artes marciais. Formada em Biologia pela Florida International University, em Miami, e especializada em biologia molecular com foco em dermatologia, ela investiga o papel das caveolinas — moléculas essenciais no estudo de doenças como psoríase, dermatite e cicatrização de feridas.
Com seis anos de atuação no laboratório do Dr. Ivan Jozic na Universidade de Miami, Beatriz já publicou estudos relevantes, incluindo pesquisas sobre a proteína caveolina-1 e sua influência na regeneração de tecidos, além de artigos sobre psoríase e tratamentos para úlceras em pacientes diabéticos. Seus trabalhos, disponíveis no Google Scholar, renderam-lhe reconhecimento em 2020, quando conquistou o segundo lugar no congresso Innovations in Wound Healing com uma pesquisa sobre cortisol e cicatrização.
Mas a ciência é apenas uma das facetas de Beatriz. Há 17 anos, ela também se dedica ao muay thai, arte marcial na qual é faixa marrom ponta preta. Iniciou seus treinos em Ourinhos e hoje integra a Gusmão Academy em Miami, sob a orientação do Mestre André Gusmão. Para ela, a disciplina exigida pelas artes marciais é um complemento natural ao rigor da pesquisa científica.
“Ambos exigem foco, resiliência e busca constante por aperfeiçoamento”, explica. “Nas artes marciais, assim como na ciência, a evolução é um processo contínuo. Do mesmo modo que diferentes estilos de luta se conectam, a ciência também funciona de forma integrada. Sou fascinada pela forma como o corpo humano opera como um sistema — um paciente diabético, por exemplo, pode ter dificuldades na cicatrização, o que se torna um problema dermatológico. O Muay Thai, para mim, é uma terapia, um momento em que me desconecto de tudo ao meu redor e recarrego minhas energias.”
Beatriz chama atenção para as doenças dermatológicas mais frequentes em atletas de esportes de contato, como micoses, foliculites e eczemas, agravadas pelo suor e atrito constante. Ela também destaca o impacto da psoríase e da dermatite de contato, condições que podem se intensificar com a prática esportiva intensa.
“Higiene rigorosa, hidratação da pele e uso de tecidos respiráveis são fundamentais”, orienta. “Atletas também devem controlar o estresse e fazer acompanhamento dermatológico regular, já que muitas vezes essas condições são negligenciadas no meio esportivo.”
No entanto, Beatriz alerta para a falta de atenção dada a problemas dermatológicos no universo das lutas.
“Infelizmente, ainda há resistência em buscar ajuda médica para essas questões, muitas vezes vistas como ‘frescura’. Enquanto lesões musculoesqueléticas recebem atenção imediata, condições como infecções e inflamações cutâneas são negligenciadas, afetando o desempenho e a saúde do atleta. Muitos só procuram tratamento tardiamente, seja por preconceito ou desinformação. Além disso, a escassez de dermatologistas especializados em esportes dentro de clubes e equipes dificulta o acesso a cuidados adequados.”
Com um pé no laboratório e outro no tatame, Beatriz Abujamra personifica a intersecção entre ciência e esporte, mostrando que a pele — maior órgão do corpo humano — merece tanto cuidado quanto qualquer músculo ou articulação.