Roberto Leitão: o engenheiro que moldou a Luta Livre e o Wrestling no Brasil

Publicada: 13/08/2025 - 16:08


Legado de Roberto Leitão segue vivo através dos seus alunos e ensinamentos (Foto Marcelo Alonso)
Legado de Roberto Leitão segue vivo através dos seus alunos e ensinamentos (Foto Marcelo Alonso)

Poucos nomes no universo das artes marciais brasileiras são tão respeitados e completos quanto o de Roberto Cláudio das Neves Leitão, o Mestre Leitão. Nascido em 15 de maio de 1937, em Laguna (SC), mas radicado desde a infância no Rio de Janeiro, ele tornou-se uma lenda viva da luta agarrada no Brasil. Combinando disciplina marcial e pensamento científico, Roberto Leitão transcendeu os rótulos e uniu estilos, escolas e gerações.

Ao longo das décadas de 1950 e 60, Leitão mergulhou de corpo e alma na prática da Luta Livre Esportiva, uma modalidade então em ascensão no país. Paralelamente, formava-se em engenharia mecânica e lecionava na PUC-Rio, trazendo ao universo das artes marciais uma abordagem inédita: o olhar técnico-científico sobre o movimento e a performance.

Sua trajetória foi marcada por uma dedicação ininterrupta. Tornou-se faixa-preta 4º dan em Judô e recebeu o 10º grau na Luta Livre, sendo considerado um dos maiores nomes do grappling nacional. Seus treinos iam muito além do “fazer” — ele explicava técnicas com diagramas, forças vetoriais e análises biomecânicas, revolucionando a forma de ensinar a luta no Brasil.

Foi também um pioneiro institucional. Em 1979, criou a primeira federação de Luta Olímpica reconhecida pela FILA (hoje United World Wrestling), dando os passos iniciais para que o Brasil competisse com seriedade no cenário internacional do Wrestling. A formação de atletas e árbitros, bem como a estruturação das competições, passaram diretamente por suas mãos.

Mais do que técnico, Roberto Leitão era um humanista das lutas. Sempre se posicionou contra a rivalidade entre estilos — especialmente entre Luta Livre e Jiu-Jitsu — e defendia o intercâmbio como caminho para o progresso. Seu lema era claro: “a luta é uma só”. Essa visão o tornou uma figura respeitada em todas as modalidades de combate, do tatame ao octógono.

Como treinador, formou e orientou alguns dos maiores nomes do MMA brasileiro. Marco Ruas, Pedro Rizzo, Renato “Babalu” Sobral e José Aldo foram apenas alguns dos atletas que aprenderam com ele. Aldo, inclusive, o chamava de “Mister Enciclopédia”, em referência à profundidade de seus conhecimentos.

Leitão também foi responsável por formar campeões olímpicos. Seu filho, Roberto Leitão Filho, representou o Brasil na Luta Greco-Romana nas Olimpíadas de Seul (1988) e Barcelona (1992). O sucesso de Beto era, em grande parte, reflexo da metodologia e ética transmitidas pelo pai.

Em 2017, publicou o livro “Biomecânica da Luta”, obra que sistematiza seus ensinamentos com base científica. A publicação tornou-se referência não apenas para lutadores, mas também para preparadores físicos, fisioterapeutas e professores de Educação Física que buscam compreender os fundamentos do movimento no combate.

“A importância do Mestre Roberto Leitão para as artes marciais no Brasil é enorme. Um cara que amava a Luta Livre, se dedicava muito e querido por todos. Ele sempre me ligava para a gente se atualizar, conversámos sobre luta, ele sempre estudando, querendo aperfeiçoar ou desenvolver novas técnicas. Então, é uma pessoa que não pode ser esquecida e de quem sinto muitas saudades. E com certeza, quem ler o seu livro vai aprender bastante com os ensinamentos dele”, relembrou Marco Ruas.

Sua rotina pessoal era exemplo de constância: dizia nunca ter faltado a um treino em mais de 60 anos. Para ele, a luta era uma metáfora da vida — algo que exigia preparo, paciência, análise e coragem. Sua filosofia combinava ciência, disciplina e paixão, transmitida com generosidade a todos que cruzavam seu caminho.

Em novembro de 2020, o mundo das lutas perdeu seu mestre. Aos 83 anos, Roberto Leitão faleceu no Rio de Janeiro, vítima de complicações da Covid-19. Sua morte gerou comoção em toda a comunidade marcial e homenagens vieram de lutadores, treinadores, jornalistas e instituições esportivas de todo o país.

Ainda assim, seu legado permanece vivo. Nos tatames, nos livros, nas lembranças e nos ensinamentos que deixou. O Mestre Roberto Leitão não foi apenas um lutador ou um professor: foi um pensador da luta. Alguém que fez da arte marcial uma ciência — e da ciência, uma arte de viver.

> Para quem quiser acompanhar o legado de Roberto Leitão em forma de livro, “Biomecânica da Luta” está em sua segunda edição e disponível através do link https://loja.editoraalbatroz.com.br/biomecanica-da-luta-2a-edicao

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