Leal: “O vôlei do século XXI é de bolas altas. Lucarelli e eu podemos jogar juntos”
Por: Portal RedeTV
Publicada: 01/10/2019 - 20:44
Em entrevista ao site norte-americano volleyballmag.com, o ponteiro Leal, da Seleção Brasileira, falou da concretização do sonho de voltar a disputar torneios internacionais após quase uma década – desde que foi banido pela Federação Cubana, em 2011. Opinou também sobre a importância do retorno de jogadores que haviam afastado, como ele, por terem optado por jogar em ligas no exterior, revelou como foi a sua adaptação ao grupo e à filosofia do técnico Renan dal Zotto e disse acreditar que a formação com ele e Lucarelli na equipe – bastante criticada no início da temporada por conta da deficiência no passe – é viável sim!: “Definitivamente, podemos jogar juntos”, disse o camisa 9 do Brasil.
Depois que a Seleção Brasileira derrotou Cuba na final do Campeonato Mundial de 2010, Leal, na época com 22 anos, se despediu da camisa da seleção cubana. Desertou no ano seguinte para jogar no exterior e acabou banido do voleibol cubano, caminho percorrido por outros craques do país, como Leon, Juantorena e Simon.
Quase nove anos depois da sua última partida pela seleção cubana, Leal foi finalmente liberado para representar o Brasil. E seus primeiros quatro meses com a equipe foram promissores.
Atuação decisiva
A Seleção Brasileira contou com a ajuda decisiva dele a para garantir a vaga para Tóquio-2020, na sofrida vitória por 3 sets a 2 sobre a Bulgária, de virada, em agosto, na casa do adversário. Esta pode ser a primeira Olimpíada do ponteiro, que não conseguiu classificar Cuba para os Jogos de Pequim-2008 antes de deixar o seu país natal.
– Ainda temos um ano até as Olimpíadas e espero poder ser convocado, isso significaria muito para mim – disse Leal.
– Foi ótimo jogar pelo Brasil. Eu realmente senti falta da competição internacional. Cresci muito como jogador no nível do clube, mas ser capaz de desafiar as melhores equipes nacionais regularmente, isso é incrível – completou.
No Sada/Cruzeiro
Depois de deixar Cuba, logo após a campanha do Campeonato Mundial de 2010, Leal foi para o Brasil e fez parte do clube mais premiado do país, o Sada/Cruzeiro, onde conquistou 25 títulos, incluindo três Campeonatos Mundiais de Clubes e cinco Superligas, entre 2012 e 2018.
Quando ele decidiu ir para o exterior, transferiu-se para o Civitanova, da Itália, onde fez parceria com o capitão da Seleção Brasileira Bruninho para ganhar o título italiano de 2019 e a Liga dos Campeões da Europa. Os dois têm mais um ano de contrato com o time europeu.
– O fato de eu ter jogado com alguns dos meus companheiros de equipe no passado e de ter jogado no Brasil certamente ajudou na minha adaptação. Os caras me receberam da melhor maneira possível e foi muito fácil me adaptar. É um processo. Agora está melhor do que há quatro meses e tenho certeza de que continuará melhorando – disse o camisa 9.
Adaptação no passe
A formação com o ponteiro Lucarelli no time titular teve alguns percalços no início, já que os dois têm características técnicas parecidas e são atacantes de definição, ou seja, teoricamente, não precisam se preocupar tanto com o passe como o ponteiro de preparação – como são Maurício Borges e Douglas Souza. Mas, Leal acha que, passado o período de adaptação, e com muito treino, ele e Lucarelli têm, sim, condição de serem titulares e de jogarem juntos.
– Acho que podemos definitivamente jogar juntos. Temos quatro dos melhores atacantes do mundo e qualquer um de nós pode jogar em qualquer partida, mas Lucarelli e eu estamos jogando bem juntos. As pessoas continuam falando sobre o passe, mas a verdade é que no voleibol moderno, com equipes que atuam de maneira tão agressiva quanto você, você só tem um passe perfeito para trabalhar com 20 ou 30% do jogo. O voleibol do século 21 é um jogo de bolas altas e Lucarelli e eu definitivamente podemos jogar juntos – disse o jogador.
Leon
Essa formação, de fato, foi a que levou Cuba à medalha de ouro do Campeonato do Mundo de 2010, quando Leal fez uma parceria com Wilfredo Leon. A estrela de 26 anos é outro dos talentos cubanos que foi expulso da seleção quando decidiu jogar profissionalmente no exterior. Curiosamente, seus caminhos se cruzaram recentemente.
Foi em um dos primeiros jogos de Leal com o Brasil, em agosto, quando os sul-americanos derrotaram a Polônia de Leon por 3 sets a 1 na final, para vencer o Torneio Memorial Hubert Jerzy Wagner, em Cracóvia.
– Parecia que todo mundo estava esperando por essa partida. Tivemos muitas perguntas sobre como jogar seria esse encontro. Mas estou muito feliz em ver o Leon se saindo bem em uma equipe tão forte como a Polônia. Ele é um ótimo jogador e merece isso. Tenho certeza de que ainda nos jogaremos algumas vezes e espero poder vencer a maioria delas – disse.
Repatriados
Leal, Leon e Osmany Juantorena, que jogam pela Itália, são provavelmente os casos mais notórios de estrelas cubanas que tiveram que mudar de federação devido à proibição do país de jogadores de seleções se mudarem para o exterior.
Essa política, no entanto, pode estar mudando em breve, já que Cuba aceitou recentemente o retorno do central Robertlandy Simon, do levantador Raydel Hierrezuelo e de Michael Sanchez, apesar de eles jogarem em outras ligas. Se esse movimento continuar, Cuba poderá recuperar seu lugar na elite do vôlei em alguns anos.
– Acho isso ótimo. Cuba precisa de seus melhores jogadores e, atualmente, todos eles estão no exterior. Simon já voltou e mostrou que impacto ele pode ter e vai melhorar ainda mais quando Hierrezuelo e Sanchez voltarem também. Espero que eles possam ajudar a geração jovem a qualificar Cuba para as Olimpíadas e melhorar seu ranking internacional. Atualmente, o time está em 25º lugar, mas seu lugar é na elite – completou Leal.