Vinhedo: “Não foi fácil tomar a decisão de parar”

Publicada: 05/02/2020 - 19:44


Vinhedo faz uma análise da carreira e explica a nova função no vôlei após a aposentadoria
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Divulgação Plus Liga

Aos 36 anos, Raphael  Margarido, o Vinhedo, resolveu encerrar a carreira como jogador, mas não deixará o vôlei. Ele decidiu seguir no esporte, fora das quadras, como um dos agentes esportivos na parceria entre as empresas GM, brasileira, e Lz Sports, europeia. Usará a experiência acumulada em 20 anos para instruir e negociar o futuro de outros atletas.

– Uns três anos atrás, quando eu falei que para o Gegê (Geraldo Maciel, empresário da GM) que já estava ficando muito difícil pra mim, que e estava sentindo muitas dores, ele falou “Ah, você vai trabalhar pra mim”. E tudo isso começou como uma brincadeira. Aí eu falei para ele que estava levando a sério, e ele também. Começamos a amadurecer a ideia. Nas últimas férias, fiquei uma semana na agência, no escritório, porque tem uma parte burocrática muito importante, que o atleta nem imagina que o agente faz. Então, agora, já estou por dentro de tudo – conta Vinhedo.

O Jastrzebski Wegiel, da Polônia, foi o último time de Vinhedo. Por ele, disputou um Mundial de Clubes como titular, terminando em segundo lugar, em 2011. Foi um dos grandes momentos da carreira, como verá na entrevista abaixo. Voltou recentemente, mas com limitações físicas pouco jogou.

Vinhedo lembra ainda da passagem pelo Banespa, da convocação para a Seleção em 2005, fazendo parte do grupo campeão da antiga Liga Mundial sob o comando de Bernardinho. Com a Amarelinha, passou por todas as categorias de base, disputou e conquistou Mundiais.

Veja abaixo a entrevista com o agora ex-jogador Vinhedo:

Quando você começou a pensar seriamente em parar de jogar?

Eu comecei a pensar em parar de jogar quando já não estava conseguindo meu nível de qualidade de jogo. Querendo ou não, o físico é limitante. Havia dois anos que eu estava jogando com um pouco de dor, então já vinha pensando nisso há um tempo. Nesses dois anos estava ficando muito difícil, as dores estavam muito fortes e eu estava ficando muito preocupado com a minha vida. Eu tenho 37 anos, sou muito novo. Não sou novo para o voleibol, mas sou novo para a vida e quero ter saúde para aproveitar a vida também.

Foi um processo fácil para você?

Não foi fácil tomar a decisão de parar, porém eu já vinha me preparando para isso, há dois, três anos. O Gegê já vinha conversando comigo, ele tinha essa vontade de trabalhar comigo e aí a gente foi amadurecendo essa ideia. Ele foi me explicando como funciona, me preparando para esse momento. Por isso que agora foi meio natural, pois quando você se prepara bem fica mais fácil.

Sua ideia é fixar-se na Europa ou existe plano de voltar para o Brasil?

Meu objetivo é ficar na Europa. Quero fazer essa ponte com os jogadores entre Brasil e Europa e é importante conhecer a realidade aqui pra gente passar para os jogadores. Querendo ou não, o agente brasileiro tem muitos contatos com os clubes de fora porque os jogadores brasileiros são muito bons. Então acaba que os clubes têm interesse nos jogadores. Porém, os agentes conhecem pouco os clubes, pouco sobre a realidade, a distância, a falta de tempo, isso pesa muito. E eu não. Vou estar aqui perto, pego um voo, daqui a uma hora estou num lugar, em duas horas estou em outro, o preço é muito mais baixo. Posso acompanhar muito mais a realidade, estar no dia a dia e saber o que os clubes estão precisando. Então é muito diferente, ninguém faz isso hoje em dia. Vamos ser pioneiros nisso, vai render bons frutos, então o lance de ter jogado fora ajudou também nesse sentido.

Você conseguiu fazer cursos para se preparar para o pós-carreira?

Não fiz nenhum curso. Venho lendo muito sobre inteligência emocional, que é uma coisa que estou vendo que é muito importante no esporte, principalmente nessa nova geração. Essa nova geração está vindo com uma instabilidade emocional muito grande. Não é o corpo que controla a mente. Tenho lido bastante, conversando bastante com o Gegê sobre isso. Quanto antes o atleta consegue amadurecer e perceber, controlar a emoção nos momentos de decisão do jogo, nos momentos de dificuldade, passar por cima do erro com felicidade, melhor. Isso é uma parte que a gente corre muito atrás para aprender.

O que mais está sentindo falta da rotina de atleta?

Não estou sentindo falta de nada (rs). E também acho que não vou sentir. Eu mantenho uma rotina diária de exercícios, vou todo dia para a academia de manhã, gosto, acho importante, só não consigo quando estou viajando. Mesmo assim eu levo minhas borrachas e faço no hotel. Então mantenho a minha rotina de exercícios até mesmo para manter a mente ativa. Não dá para ficar sem rotina.

Quais foram os melhores momentos da sua carreira?

Um dos melhores momentos da minha carreira foi a Seleção Brasileira logo depois que eu fui campeão no Banespa, em 2004 e 2005, e depois quando fui vice-campeão da Copa da Polônia em 2010. Fui o Mundial de Clubes, fomos vice-campeões e eu fui titular, jogando. Foram os dois melhores momentos da minha carreira.

Quais os três melhores atacantes com quem atuou?

Um dos caras que resolviam muito quando eu jogava era o Nalbert. Era um cara que no momento decisivo era impressionante. Era levantar para ele que resolvia. Outro cara que também resolveu, que fez uma temporada muito boa comigo, impressionante, foi o Lazko, um italiano que jogou na Polônia. Douglas Cordeiro era outro cara que era um absurdo, Joguei com ele na Ulbra, os números de aproveitamento dele eram impressionantes. Era levantar para ele e sair para o abraço. Óbvios que tiveram outros grandes jogadores com os quais eu joguei, mas que os que vêm na memória agora, que resolviam o meu problema, são esses três nomes. Com certeza me marcaram.

E, por fim, ficou faltando algo na carreira, Vinhedo?

Claro que tinha o sonho de Olimpíada, de Seleção, mas acho que é importante para o atleta entender as suas limitações. Eu sempre entendi as minhas limitações. Meu corpo é o meu limite. Determinação e vontade nunca faltaram. É lógico que eu fiz escolhas erradas na minha carreira, como todo mundo faz, mas isso serve como crescimento. Eu tenho gratidão enorme pela carreira que eu fiz. O voleibol me deu muita coisa e acho que hoje sou uma pessoa bem sucedida por conta de tudo que eu passei dentro do voleibol. Todas as dificuldades me fizeram crescer. Sou muito grato por tudo.

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