Rosamaria: “Você vai de rainha a nada em um segundo”

Publicada: 31/03/2020 - 20:57


Confira entrevista com a ponta/oposta brasileira

A pandemia de coronavírus interrompeu a boa temporada de Rosamaria no Perugia. Na primeira experiência internacional, a brasileira voltou a jogar na saída de rede. E, apesar de o time brigar contra o rebaixamento, ela teve bons números ofensivos e era a segunda maior pontuadora do Campeonato Italiano, com 382 acertos, atrás de Mingardi, do Brescia (405).

Cumprindo a quarentena obrigatória no Brasil após o retorno, Rosa fez um balanço ao Web Vôlei da performance na Itália, da mudança de posição, de como lida com as críticas e também dos próximos objetivos.

Com o adiamento da Olimpíada de Tóquio para 2021, ela vê chances de retornar para a Seleção:

– Acredito que sim, na verdade as chances aumentam pra todos. Um ano a mais pra ganhar experiência e para mostrar um bom trabalho. Mas ao mesmo tempo a concorrência também aumenta. A cada ano surgem novos talentos, novas revelações, então para mim é sinônimo de mais 365 dias de muito foco pra tentar uma chance na Seleção

Confira abaixo da entrevista com Rosamaria:

CORONAVÍRUS NA ITÁLIA

Fiquei assustada um pouco pelo cenário, mas depois de entender a gravidade, que era o melhor a ser feito, era compreensível. A gente ficou mais assustada com a situação que o vírus estava criando. O que vai acontecer? Para sair de casa precisava de autorização. Acredito que o Brasil vai conseguir passar por essa crise. A Itália demorou um pouco a tomar medidas extremas. Eles mesmos admitiram isso. No Brasil, pegaram o exemplo de como aconteceu lá fora, tomaram medidas mais rápidas e acho que as coisas vão funcionar melhor. Se o pessoal aqui seguir as orientações direitinho, acredito que vamos conter esse vírus mais rapidamente.

PREOCUPAÇÃO

Minha família ficou preocupada, mas não surtou. Eu passava para eles as informações. A área que eu estava, graças a Deus, não foi muito afetada. A minha região tinha muitos casos, mas não como o Norte da Itália, onde foi muito pior. Então a gente já estava em quarentena há uma semana, desde o dia 8 de março, já tomando todos os cuidados.

QUARENTENA

Eu cheguei ao Brasil no dia 16 de março. A recomendação básica para quem chega do exterior foi a quarentena, por eu ter estado em uma zona de pico, mesmo que eu não tenha tido nenhum sintoma quando eu cheguei no Brasil, fiz exame e não deu nada, não tive nenhum sintoma. Fiz a quarentena por mim e pelos outros.

ROTINA

A rotina de treinamento é fazer atividade em casa, ver série, estou acabando os livros que eu tinha aqui, tentando cozinhar, fazer umas receitas que nunca tinha testado.

DESEMPENHO NO PERUGIA

Minha temporada foi muito boa, fiquei muito feliz. Como time gostaria de ter feito uma temporada melhor, conseguindo melhores resultados. Fica aquela sensação de que não acabou. O campeonato está pausado, ainda não tem uma definição se continua ou se cancela, mas a gente tinha chance de classificar para os playoffs. Faltavam ainda sete jogos por fazer da fase classificatória, mas no geral fiquei feliz com os meus números, com os desafios que eu coloquei como desafio e conseguir superar. Isso me deixou muito feliz.

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Rosamaria em ação na Itália na competição paralisada pelo coronavírus (Divulgação)

AS CRÍTICAS

Eu fui para a Itália num cenário totalmente diferente. Voltei para a posição em que eu me sentia mais à vontade. A minha escolha por sair do Brasil não foi baseada nisso. Foi realmente querer uma experiência na Itália, no campeonato, para mim, mais forte do mundo hoje. As críticas estão aí, normal. Uma temporada você faz bem, outra faz mal, mais ou menos. Então você vai de rainha a nada em um segundo. Vida de atleta é isso. A gente tem de saber lidar com os momentos. Só nós sabemos os desafio que passamos, o que nos propomos a superar. Poucos sabem o que se passa dentro da gente, porque fazemos certas escolhas. As críticas e os elogios vão vir e a gente não pode se deixar influenciar nem por um nem por outro. E tudo passa. A glória passa e quando você está mal também passa. Se você se esforçar, tudo passa. Trabalhando tudo pode acontecer.

SUPERLIGA 18/19

Fiquei feliz com o jogo da final no Brasil (Dentil/Praia Clube x Itambé/Minas) que eu fiz no ano passado. Acho que eu fui bem. Obviamente tive altos e baixos dentro do campeonato, mas dentro do que eu sabia que era difícil para mim eu sei que eu me superei em muita coisa. As pessoas às vezes esperam demais, né, mas a gente sabe do que a gente é capaz e do que é o nosso 100%. Então eu estava satisfeita.

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Rosamaria no ataque contra o Minas (Orlando Bento/MTC)

MUDANÇA DE POSIÇÃO

Estava me sentindo muito mais confortável jogando como oposta, mas obviamente se o time precisar que eu jogue como ponteira estou disposta. Mas hoje minha escolha é por jogar na saída, onde eu desempenho meu melhor voleibol. Mas poder jogar nas duas posições me abriu muitos caminhos. Tenho certeza que posso jogar nas duas posições.

ADAPTAÇÃO NA ITÁLIA

Eu já tinha estudado italiano há uns anos, eu já tinha ouvido porque a minha família estava inserida na cultura italiana antes de ir. Uns dois meses antes de ir intensifiquei meus estudos várias vezes por semana. Em questão de um mês eu já estava falando, todo mundo me elogiou, disse que eu estava falando super bem, que era impressionante. Mas foi realmente depois do convívio, de ouvir e não ter medo de falar. Eu não tinha medo de falar, errar e aprender com as meninas. Todo mundo me ajudou muito. Isso me ajudou demais em questão de treinamento, na conversa com o técnico. Chegar já entendendo e falando me ajudou demais.

FUTURO

Ainda não sei, com essa questão do coronavírus está tudo indeterminado. Lá fora ainda não sei se o campeonato acaba ou se continua. Minha primeira opção é continuar lá fora, mas não descartaria voltar para o Brasil, anda mais diante dessa situação. O objetivo era continuar lá fora, mas nunca se sabe. Não digo só na Europa, pois queria viver novas experiencias, conhecer novas ligas… Mas voltar para o Brasil não está descartado. Estou calma, aguardando o que vai acontecer.

Por Daniel Bortoletto e Patrícia Trindade

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