Prestes a completar 25 anos de faixa-preta, Paty Lage celebra o Dia Internacional da Mulher; veja

Publicada: 09/03/2020 - 19:23


Referência no Jiu-Jitsu feminino, Paty vai completar 25 anos de faixa-preta em 2020 (Foto divulgação)

* Uma verdadeira representante do Jiu-Jitsu, Patrícia de Oliveira Lage, a “Paty”, já passou por tudo no esporte. Treinando desde 1981, a faixa-preta começou em uma época onde ainda existia muita resistência para as mulheres praticarem Jiu-Jitsu e, com o passar do tempo, viu a situação melhorar, apesar do preconceito que segue existindo até hoje.

“Minha mãe me levava para assistir aos treinos de Judô de meu pai. E eu achava muito bacana a ‘roupa’ que ele usava, falava pra minha mãe que queria usar também… Ela dizia que o Sensei não deixava meninas treinarem, que não podia. Por ser pequena, eu não entendia o que isso significava, ‘que menina não podia treinar’. E realmente havia uma lei na época que não permitia que mulheres praticassem Judô. Isso foi revogado depois”, relembrou Paty em entrevista à TATAME, contando como começou no esporte.

“Na mesma época eu fazia Natação na academia Foquinha, onde curiosamente meu pai treinava Jiu-Jitsu já. Um dia, saindo da aula de Natação, vi algumas crianças, meninos e meninas, vestidos com aquela ‘roupa’ que eu achava demais, e ao chegar em casa contei para os meus pais. No dia seguinte ganhei meu primeiro quimono, comecei a aprender Jiu-Jitsu com o mestre Octávio de Almeida e nunca mais parei de treinar desde então. Eu pratico há 39 anos ininterruptos e com muito orgulho”.

Em 2019, Patrícia completou 24 anos de faixa-preta – 6º grau -, uma marca muito especial, principalmente por conta de todos os problemas enfrentados por ela. Entretanto, ao invés de olhar o lado negativo da história, Paty prefere ressaltar as virtudes que o esporte lhe trouxe e como superou as barreiras impostas.

“Comecei do zero, quando praticamente não havia mulheres treinando, era muito raro, e as poucas que tinham não eram competidoras. Eu, por exemplo, lutava campeonatos com meninos por falta de mulheres. E sobrevivi a tudo isso. Estou aqui muito bem, nunca me vitimizei. Pelo contrário. Sempre houve muito preconceito com mulheres praticando artes marciais, e as que faziam eram estereotipadas como sendo mulheres grandes, feias, ogras, que não tinham jeito de mulher. Isso não existe. Eu fiz exército, hoje sou oficial da Reserva. Ou seja: sempre convivi com muitos homens machistas… E minha resposta sempre foi fazer tudo da melhor forma possível. Fui 01 da minha turma no Exército. Sempre mostrei que poderia fazer tudo da melhor forma, e é o que faço até hoje. Esse machismo que eu sempre enfrentei, ele só serviu para me dar mais força, para me motivar a mostrar que eu sou muito capaz, sim”, afirmou a casca-grossa.

No último domingo, dia 8 de março, foi celebrado o Dia Internacional da Mulher. Querendo servir de exemplo e inspiração para que mais mulheres se dediquem à arte suave, Patrícia destacou os benefícios da prática esportiva e elogiou o cenário atual do Jiu-Jitsu feminino, segundo ela, em evolução.

“O Jiu-Jitsu sempre me deu muita disciplina, característica que eu mais gosto em mim. Tudo que aprendi e aprendo dentro do tatame levo para a minha vida fora dele. O Jiu-Jitsu me dá a força diária para sempre tentar ser uma pessoa melhor, que não abaixa a cabeça diante das dificuldades, muito pelo contrário. Por conta disso, os benefícios que ele traz para mulheres são muitos. Aprendemos a ter autoconfiança e, com isso, aumentamos nossa autoestima. Aprendemos também a nos defender, o que considero extremamente importante para as mulheres, sem contar nas amizades. Na parte estética, praticar Jiu-Jitsu emagrece, trabalha muito o abdômen, os braços e quadril”, disse ela, antes de encerrar.

“O cenário feminino dentro do Jiu-Jitsu hoje é completamente diferente do que quando comecei. O número de mulheres é muito grande, mas pequeno ainda se comparado ao número de homens. Mas creio que seja uma questão de tempo. As mulheres que fazem Jiu-Jitsu são apaixonadas pelo esporte, e influenciam outras mulheres a praticarem. Ir a uma competição hoje em dia e ver a quantidade de mulheres, pra mim é lindo! Porém, mesmo dentro do tatame ainda há muito preconceito, bem menos que antigamente, mas existem uns caras que insistem em não treinar com mulheres. Vai saber o que se passa na cabeça deles, eu não ligo”.

* Por Diogo Santarém

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